terça-feira, 12 de abril de 2011

CRÍTICA: "Macho man": Divertidíssimo


Por Patrícia Kogut


Nem gay, nem hétero. O personagem de Jorge Fernando em “Macho man”, Nélson, é um tipo em transição, matizado. Foi esta a sacada que permitiu ao programa seu pulo do gato: construir um universo amplo, sem fronteiras, e brincar com todos os clichês de um ponto de vista sempre móvel. Nélson é a expressão ambulante da indefinição, mas tem em Valéria (Marisa Orth) às vezes um espelho, às vezes um alter ego. Eles se completam e se enquadram mutuamente.


Fernanda Young e Alexandre Machado, criadores de outras duplas bem-sucedidas na televisão (“Os normais”, “Separação?!”), agora avançam ainda mais no terreno da ousadia com esta parelha heterodoxa. “Macho man” deixa evidente a assinatura deles — é inspirado, criativo e inovador. Mas não teria a alta voltagem que se viu na estreia (na Globo, na última sexta-feira) sem a direção de José Alvarenga Jr. e as atuações espetaculares de Marisa Orth e Jorge Fernando.

Eles divertiram em cenas como a do teste para ver se Nélson realmente já não era mais gay: “Prefere vira-lata ou pequinês? Japonês ou PF?”. E também com as dicas de Valéria para o amigo: “Não pode mais falar de moda, liquidação nem de fofoca de artista”. E outra: “Não pode mais me chamar de querida: hétero não chama amiga de querida. Chama de gata”. E ainda: “Não é pra ficar ‘amando’ o cabelo das amigas e clientes: hétero não ama nada!”.

São várias as lições e, como corre no subtexto do programa, todas elas meio inúteis. Hétero não gosta de revista de fofoca? Não chama as amigas de querida? Será? Existe alguma tamancada que possivelmente desloque o eixo do planeta de uma pessoa? Por este aspecto, “Macho man” promove a subversão de vários preceitos. E, quem esperava ver um gay se transformando em hétero depois de um choque na cabeça, foi positivamente surpreendido por uma história muito mais cheia de meandros do que isso. De todas as estreias da nova programação da Globo, esta foi de longe a mais surpreendente.

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